"Sim, sou eu!" - Foi a única coisa que me lembro de ter dito. Não me lembro se nos abraçamos ou se eu apenas desejei tê-lo abraçado. Beijado.
Me despedi da Bruna, que se sentia segurando vela para nós e fomos indo em direção a uma das mesas do refeitório. Em qualquer dia normal, eu teria muito medo de levar uma bronca de umas das "tias do corredor", me mandando voltar para a sala de aula e todas essas coisas chatas que só as funcionárias de colégio fazem! Não me preocupei. Sentamos e começamos a conversar... Fluiu tudo muito rápido, muito simples. Parecia que estávamos vivendo um filme, com um script pronto. Não houve pausas de silêncio, não aconteceu de ficarmos sem assunto. Era tudo muito novo!
As meninas mais novas passavam por ele com a mesma admiração que eu. Todas com rostos apaixonados e curiosos. Acho que se perguntavam que seria aquele menino novo. E talvez também se perguntavam o que ele estaria fazendo COMIGO naquela manhã. Nunca fui a menina mais bonita da escola, da sala e nem de nenhum lugar. Eu passava desapercebido. As meninas não sabiam meu nome, os meninos nunca se interessavam por mim. Eu era apenas a menina estranha, magrela, que ria e falava alto demais, rápido demais e fazia as apresentações na escola. Coisa que todo mundo geralmente fugia! Mas eu não... Eu adorava. Não era popular. Longe disso! Tinha poucas amigas e muita gente não gostava de mim. Eu passava o intervalo encostada no muro da escola, só observando e dando rótulo pras pessoas, junto com minhas amigas. Comentando o comportamento de cada pessoa. "Essa menina já trocou de namorado?" "Aquele menino cortou o cabelo? Não ficou bom!" "Meu Deus, aquele casal vai se engolir!" As vezes eu comia. Sempre pizza com suco de maracujá. SEMPRE. Enfim, eu não era a menina que era vista com meninos... Muito menos meninos bonitos.
Quando o sinal tocou, muitas salas foram liberadas, mesmo ainda faltando o ultimo tempo pra dar o tempo certo de sairmos. Mas quase nunca saíamos às 11:20. Era raro e eu adorava isso! Adorava sair mais cedo. Nunca ia pra casa. Costumava ir para a quadra esportiva assistir os meninos do futsal treinarem com minhas amigas sentadas na arquibancada. Já fazia parte da nossa rotina. Mas naquele dia foi diferente.
Mayra desceu correndo, mal falou comigo, parecia não querer incomodar. Entregou meu material escolar e foi indo em direção à quadra. Ela estava sorrindo de um jeito estranho demais. Será que ela já estava apaixonada?? E o nosso plano de ficar solteira?
Ele começou a folhear meu caderno enquanto eu acompanhava a Mayra se afastando com o olhar vazio. Começamos a conversar novamente. Não me lembro sobre o que era, na verdade! Só me lembro de ser agradável e de me sentir muito muito muito tímida. E me lembro disso, porque eu me recordo claramento de ouvir ele dizer o quanto eu ficava linda quanto estava com vergonha! Mas caramba, quem é que fica linda com vergonha? Você fica vermelha, com cara de retardada, sorri pro nada e por mais que tente, não consegue para! É horrível e não acredito que alguém fique bonita assim... A não ser nos filmes de amorzinho, ou nas novelas. Mas na vida real é assustador. Ninguém gosta de sentir vergonha de algum menino! Mas porque diabos eu estava com vergonha? Conheço esses tipinhos de meninos bonitos que falam as mesmas coisas para todas as meninas, ficam com elas e depois caem fora! Eu, no fundo, sabia que era isso que iria acontecer. Não tinha lógica eu acreditar num possível romance, ele estava em outro nível. Fazia parte de outro tipo de pessoas, era quase impossível.
Depois de ficarmos conversando sobre vários assuntos aleatórios, levantamos e fomos em direção ao portão de saída. Foi quando ele se ofereceu pra me deixar em casa. Eu nunca deixava ninguém ir me deixar em casa. No máximo no início do conjunto e só! Não gostava de ser vista com meninos por lá. Os vizinhos falam demais, aumentam demais... Isso me irritava. Meus avós eram (e ainda são) muito conservadores. Eram regras demais, eu não podia fazer quase nada!
Mas olhando minha situação, alí na frente da escola, com um menino muito legal e bonito, comecei a me perguntar: "Quais as chances de aquilo acontecer novamente? Quais as chances de um menino desse jeito querer me levar pra casa e não simplesmente meter a língua na minha boca e ir embora?" Aceitei a "carona" e fomos andando devagar... Então ele me disse "Bom primeiro dia de trabalho". COMO ASSIM? Como ele sabia disso? Eu tinha 17 anos. Comecei a trabalhar com 14, porque sempre gostei de ter meu dinheiro. Mas naquele 13 de junho de 2011, seria o primeiro dia de trabalho de carteira assinada! Eu havia conseguido uma vaga como aprendiz no RH de uma rede de hipermercados nacional! Era empolgante *-* Mas como ele descobriu isso? Até hoje não sei. Mas achei fofo demais. Era legal ter alguém pra se importar comigo, só pra variar. Quando foi mesmo a ultima vez que namorei? com 15 anos? Nem me lembrava mais... Nem me lembrava de como era se sentir querida. especial. Desejei que aquele dia não acabasse mais.
Quando chegamos na frente da minha casa, começamos a brincar com o iPhone dele. Pra mim ter GPS no celular era a coisa mais legal que já haviam inventado! E essa tal de internet 3G? Fiquei impressionada na velocidade! Era tudo novidade pra mim. Naquele tempo ninguém sabia o que era essas coisas kkkkkkkkkkkkk Lembro de correr na rua que nem uma louca, querendo ser mais esperta que a setinha do GPS. Tentava enganá-la, sem sucesso, óbvio! Ele apenas ria de mim. Sorria. Eu era só uma menina. Diferente das outras que ele costumava ficar. Era a ingenuidade, talvez. Inocência, em certos pontos. Ele estava acostumado com meninas de 14 anos que já faziam de "tudo", já eram mulheres maduras, e eu era só a maluquinha que queria enganar um smartphone. Era diferente pra ele. Um mundo novo.
Quando cansei de correr feito uma louca, me sentei na caixa do contador de água e ficamos olhando um pro outro. ofegantes. O mundo parou. Ficou tudo em preto e branco. Silêncio. A gente não precisava falar, nossos corpos, almas e olhos se conversavam sozinhos. Essas coisas não acontecem com qualquer pessoa. É único.
Minha avó veio gritando de dentro de casa, dizendo que eu estava atrasada, que deveria entrar, comer e me arrumar. Cumprimentou o Marcos rapidinho e entrou. Era chegado o momento da nossa despedida. Me levantei e fui em direção ao portão, ele me seguiu e ficamos um tempos nos olhando em silêncio, novamente. Ele passou o braço por trás de mim e o encostou no portão. Fiquei "presa", perto dele. Fiquei sem ar. Fechei os olhos, inconscientemente. Minhas pernas tremiam, meu estômago estava embrulhado, borboletas batiam suas asas dentro da minha barriga. Sensações novas. Sensações únicas. Ele se aproximou e meu beijou. Não esitei. Deixei a vida me levar...
(continua...)
ameeeeei :*
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